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Projeto Correspondente

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Lições de amor em cartas

Escrever faz bem à cabeça e ao coração. Colocar palavras no papel é uma boa forma de organizar idéias, traduzir sentimentos, desabafar. Mais do que os benefícios de escrever um diário, trocar cartas com alguém em quem se confia ajuda os correspondentes a aprenderem com as experiências um do outro, a falarem de suas vidas e até a descobrirem certas coisas que não sabiam sobre si mesmos.

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Com a intenção de estimular esse processo de autoconhecimento e auxiliar crianças e adolescentes carentes a recontarem a própria história e até a re-significarem sua relação com os adultos, é que surgiu o projeto Correspondentes, do InPróS – Instituto de Projetos Sociais, em 2004.

Por intermediação de psicólogas, voluntários acima de 25 anos podem se corresponder com crianças e adolescentes – de 6 a 18 anos – que moram em abrigos ou freqüentam núcleos sócio-educativos e se interessam pelo projeto.

Muriel Matalon, presidente do InPróS, explica que escolheu trabalhar com esse público pelo alto grau de vulnerabilidade social a que estão submetidos. Quem mora em abrigos, por exemplo, foi retirado da família por juízes da Vara da Infância e da Juventude por motivos que envolvem maus-tratos, violência física, abuso sexual, negligência, abandono ou completa falta de condições financeiras. Mesmo as crianças e jovens de até 14 anos que freqüentam os núcleos sócio-educativos em horário complementar ao da escola e moram com os pais ou responsáveis, pertencem a contextos sociais bastante delicados.

A troca de cartas entre um voluntário e uma criança ou adolescente acontece durante um ano, pelo menos a cada 20 dias. Com o tempo, vai-se construindo um vínculo de amizade, carinho e cuidado entre eles. O conteúdo das correspondências é livre e bastante variado: as crianças fazem perguntas e dividem alegrias e tristezas relacionadas aos familiares, à escola e aos amigos, os adolescentes também falam de namoros e de futuro e os voluntários, muitas vezes, curam antigas feridas ao acompanharem relatos de histórias semelhantes. Independentemente de quem está de um lado e do outro do papel, são dois mundos bem diferentes que se visitam e se misturam via correio.

Também é idéia do projeto impulsionar o desenvolvimento da leitura, escrita, interpretação e elaboração de pensamentos. Muitos dos meninos e meninas que participam do projeto não tiveram acesso a uma alfabetização consistente e têm muita dificuldade de se expressar por meio de palavras. As cartas se tornam um grande estímulo para que eles desenvolvam essa habilidade. Pode ser que, no começo, o voluntário precise fazer uso de desenhos, pinturas, dobraduras, colagens e outros artifícios para se fazer entender e alcançar o universo de seu correspondente.

Atualmente, 1.560 pessoas – metade de crianças e adolescentes e metade de voluntários – participam do projeto e mais de 11 mil cartas já passaram pelo instituto nesses quase quatro anos de existência do Correspondentes do Bem.

Apesar de haver voluntários de todo o Brasil e até de Portugal, por enquanto, os 28 abrigos e 3 núcleos sócio-educativos participantes estão localizados, principalmente, na cidade de São Paulo, havendo apenas um em Santos e um, em processo de credenciamento, em Brasília.

COMO FUNCIONA

Uma equipe do InPrós identifica os abrigos e núcleos que desejam participar do projeto e realiza uma oficina de sensibilização com os educadores das instituições e os jovens correspondentes.

A criança ou adolescente escreve a primeira carta – muitas vezes com a ajuda dos educadores do abrigo –, que é enviada à sede do projeto, onde passa por leitura sigilosa, realizada por uma psicóloga. Em seguida, a carta é encaminhada a um voluntário, que deve respondê-la em até 20 dias, também endereçando a resposta ao instituto.

Voluntários e correspondentes não podem manter nenhum outro contato, a não ser por meio das cartas, portanto, não lhes é permitido trocar endereços, telefones, e-mails, orkuts etc. Todas as cartas, invariavelmente, são lidas por uma psicóloga encarregada de evitar que conteúdos inadequados cheguem até os jovens e de acompanhar o vínculo que se forma entre o adulto e seu correspondente, orientando no que for preciso.

É permitido enviar fotos – que facilitam a formação da imagem do voluntário na cabeça das crianças – e presentear os correspondentes. Neste caso, os voluntários são incentivados a enviar livros, revistas, lápis, canetinhas, cadernos e outros artigos que os ajudem em seu processo de linguagem e escrita.

A troca de correspondências acontece pelo período de um ano e se for da vontade tanto da criança quanto do voluntário, pode continuar por mais seis meses e assim por diante. Quando um dos dois decide não se corresponder mais, a criança e o voluntário escrevem duas cartas finais para se despedirem sem traumas.

O instituto conta com profissionais especializados para esclarecer dúvidas e orientar situações em que haja alguma dificuldade, seja para os jovens, para os educadores das instituições ou para os voluntários. Com os abrigos e núcleos, são feitos contatos quinzenais por telefone e reuniões mensais de modo que o projeto seja avaliado em conjunto.

Para se tornar um voluntário do Correspondentes, é necessário entrar em contato com a Central de Atendimento do projeto, ler o Manual do Voluntário e preencher e assinar um questionário/termo de compromisso, que passa por avaliação do instituto. Depois de aprovado pelo projeto, é só aguardar a primeira cartinha.

A sede do InPróS fica em São Paulo.
Rua Marquês de Itu, 837, cj. 61
Telefones: (11) 3257-0811 e (11) 3278-4178
E-mails:
Geral - correspondentes@inpros.org.br
Voluntários interessados - voluntario@inpros.org.br
Abrigos e Núcleos que quiserem participar - instituicao@inpros.org.br


Cartas do bem

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De Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre o “achamento” do Brasil; de Getúlio Vargas ao povo brasileiro pouco antes de seu “suicídio”; de Julieta para Romeu – que, extraviada, acaba provocando a morte dos dois; dos analfabetos da Central do Brasil – pelas mãos de Dora (Fernanda Montenegro) – a seus parentes que ficaram para trás; de soldados no front a suas mães e esposas saudosas; de amor; de rompimento; de reconciliação; de recomendação; entre escritores; oficiais; anônimas.

Com a nova era digital, as cartas parecem ter se tornado obsoletas. Mas nem sempre. Tentando resgatar a importância da escrita na vida de crianças e adolescentes carentes que moram em abrigos* ou freqüentam núcleos sócio-educativos*, a diretora de teatro Muriel Matalon criou, há quatro anos, o projeto Correspondentes.

A idéia é que através de cartas trocadas com voluntários adultos (acima de 25 anos), elas desenvolvam sua capacidade de ler, escrever, interpretar o que está sendo dito e elaborar melhor seus pensamentos e sentimentos.

Atualmente, cerca de 780 adultos e o mesmo número de crianças de 28 abrigos e 3 núcleos sócio-educativos participam do projeto. Depois de passar por uma avaliação prévia feita pelas psicólogas do InPrós – Instituto de Projetos Sociais, o voluntário aguarda a primeira cartinha da criança e tem até 20 dias para responder.

Nesse processo, eles se ajudam e aprendem muito uns com os outros, expondo e explicando seus sentimentos e situações de vida. Para preservar os participantes, não é permitido que se encontrem ou tenham outro tipo de contato além das cartas – que são sempre intermediadas pelo instituto, onde as psicólogas responsáveis fazem uma leitura sigilosa das correspondências e só depois as encaminham para os destinatários.

Desde o início do projeto, mais de 11 mil cartas já foram trocadas. Se você também deseja ser um correspondente do bem, precisa ler o Manual do voluntário e preencher um questionário de identificação e termo de compromisso e enviá-los à Central de Atendimento do projeto (veja instruções completas para participar no site do projeto). No momento, há 159 voluntários esperando a primeira carta de seus pequenos correspondentes.

Os abrigos e núcleos interessados em participar do projeto devem mandar um e-mail parainstituicao@inpros.org.br, ou entrar em contato pelo telefone (11) 3257-0811.

* Os abrigos acolhem crianças que são retiradas dos pais por diversos motivos – como negligência, maus tratos, abuso sexual, abandono ou dificuldades sócio-econômicas – onde elas ficam morando até serem adotadas ou retornarem para suas famílias, de acordo com decisão do juiz das Varas de Infância e Juventude.

** Já os núcleos sócio-educativos são espaços freqüentados por crianças e adolescentes, de 6 a 14 anos, no período em que não estão na escola, na tentativa de que não fiquem na rua o restante do dia. Lá, elas fazem os deveres do colégio, participam de aulas de esporte, de música e de cursos profissionalizantes e recebem orientações de saúde e alimentação.


Dama das cartas

por Liane Alves

Muriel já foi clown em hospitais, participou de projetos sociais relativos a adoções e durante os 17 anos que dedicou ao voluntariado aprendeu muito sobre a dura realidade dos abrigos municipais para menores. Pensei: o que poderia fazer por essas crianças e adolescentes? A resposta veio e há três anos se transformou em realidade: o Projeto Correspondentes, em que voluntários se dispõem a trocar cartas com crianças e jovens de abrigos da Prefeitura de São Paulo. A felicidade de receber uma carta de alguém que se interessa por você é insubstituível. A correspondência nos traz um senso de individualidade, de auto-respeito, que faz muito bem, diz a paulista Muriel Matalon. Num abrigo, as roupas passam de um para o outro; camas, lençóis e produtos de higiene são iguais para todos, não há nada que faça a criança exercitar seu gosto pessoal ou que alimente seus sonhos, diz Muriel. Nesse ambiente em que predomina o coletivo, uma carta que pergunta qual é sua cor favorita, o que gosta mais de fazer na vida? ou o que você quer ser quando crescer? tem uma importância capital. Atualmente, são mais de 1600 correspondentes que trocam cartas, e o objetivo é ampliar, alcançando outras cidades do Brasil. Todas as cartas são copiadas e lidas por psicólogos. Uma pessoa pode ser mais mais séria, outra mais brincalhona, mas no fim todas desejam doar seu amor para as crianças, diz Muriel.


Cartas da Esperança

Ela resgatou o velho hábito de trocar correspondência para levar carinho e atenção a crianças que vivem em abrigos, afastadas de suas famílias

"Querida Muriel. O meu aniversário é no dia 12 de dezembro e vou fazer 12 anos. Não estou indo bem na escola e ainda não sei se vou para a 5ª série. Também não sei o que quero ganhar de natal. Não tenho religião nem sei o que é. Um abraço e um beijo para você."

Essa foi uma das cartas que a empresária paulistana Muriel Matalon, de 43 anos, recebeu de Vítor *, um garoto afastado de sua família pela Vara da Infância e Juventude. Ele vivia em um abrigo em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, que recebe menores vítimas de maus tratos, abandono, violência física ou abuso sexual. Ao longo de dois anos e meio, Muriel e ele trocaram mais de 30 cartas, compartilharam experiências e ganharam apoio e carinho um do outro. A amizade nasceu do Projeto Correspondentes, criado por Muriel em 2004. Desde então, 570 voluntários de todo o país já trocaram mais de 4 mil correspondências com 610 crianças de 27 abrigos e três núcleos socioeducativos.

"Com o tempo, as linhas no papel criam uma relação de confiança tão gostosa que permite compartilhar as coisas mais importantes da vida: nossa história, sonhos e desejos", diz a empresária, que perdeu o contato com Vítor depois de ele ter sido transferido para um abrigo onde a comunicação pelo correio era proibida. "Ainda espero receber notícias dele", diz ela, que se apega à certeza de que o garoto mantém o endereço do projeto. A desilusão, porém, não a enfraqueceu.

Atualmente, 436 duplas de correspondentes mantêm-se ativas. O dentista Cristiano Schroider, de 32 anos, escreve para Juliana, de 13, há dois anos e sete meses. "Depois da paternidade, essa tem sido a melhor experiência da minha vida. Ela me fez parar para pensar na situação de risco em que vivem essas crianças", afirma ele, que anda encantado com a iniciativa e já planeja seu próprio projeto social.

Para Adriana Schanoski, coordenadora de um dos abrigos parceiros do Correspondentes, as crianças se beneficiam da proposta. "Receber a carta é a prova de que alguém as escuta e se preocupa com seu bem-estar. É também uma forma de ajudá-las a expressar seus sentimentos", diz ela. Luiz, de 11 anos, vive em um abrigo da capital paulista há um ano e conta como é participar. "Quando estou triste, escrevo para o meu amigo porque sinto que gosta de mim. Ele sempre pergunta como foi meu dia, fala de futebol e manda figurinhas do Corinthians."

Segundo a psicanalista Carina Faria, mestre em desenvolvimento humano, o uso que o projeto faz da carta permite à criança desenvolver uma amizade ao mesmo tempo em que preserva sua individualidade. "Além disso, se o vínculo for bom, ela vai depositar esperança naquela relação." A especialista alerta, no entanto, para o risco de o menor idealizar demais seu correspondente. "Ele pode ter um amigo mais ligado ao imaginário do que à própria realidade."

Da idéia à realidade

Desde os 12 anos de idade, Muriel participa de atividades ligadas ao terceiro setor, mas o envolvimento com as crianças começou quando ela acompanhou, de perto, uma tentativa de adoção. "Fiquei impressionada com a burocracia e contratei uma advogada para estudar o entrave jurídico que envolve o processo", diz. Assim, entrou em contato com juízes, assistentes sociais, psicólogos e educadores que lhe apresentaram a realidade dentro dos abrigos infanto-juvenis. Algumas crianças que vão parar neles voltarão para casa quando a Justiça determinar. Outras encontrarão uma nova família por meio da adoção. As demais, porém, têm pela frente apenas uma opção: a de se preparar para uma vida independente, sem poder contar com o apoio de parentes.

Decidida a ajudar, Muriel imaginou possibilidades que fossem úteis para as crianças e viáveis para os voluntários. "Não queria que a distância do abrigo ou a correria do dia-a-dia levassem à perda de contato com os acolhidos", diz. "A proposta do 'amigo a distância' (por carta) foi adequada à condição do lugar." E foi, justamente, por isso que deu certo.

Manual do correspondente

Espera-se dos voluntários a mesma assiduidade das crianças: eles têm até 20 dias para escrever de volta. Psicólogos fazem uma leitura confidencial de todas as cartas, que são trocadas de envelope. "Não para censurar, mas para proteger a criança", diz Muriel. A intermediação impede também que as pessoas se conheçam pessoalmente. "O afastamento seria muito doloroso." Cerca de 300 voluntários aguardam sua vez de participar. "Precisamos de mais profissionais", diz Muriel. Para contribuir com doações, basta contatar o Instituto Projetos Solidários pelo telefone (11) 3257-0811 ou pelo e-mailcorrespondentes@inpros.org.br.

* Os nomes das crianças são fictícios.


No dia das mães dê um presente diferente

Fábio Feldmann
De São Paulo

Vemos todos os dias nos jornais e televisões uma série de escândalos políticos que penduram sem resoluções, sendo que cada novo escândalo tem o incrível efeito de nos fazer esquecer do escândalo passado. Se por um lado estas notícias tão cotidianas são desanimadoras, por outro, existem iniciativas ocorrendo, extremamente importantes, de pessoas e da sociedade civil para melhorar o planeta, porém ausentes nos noticiários. Já são diversos os empreendedores sociais no Brasil, comuns entre si por uma qualidade ímpar: a generosidade.

Nesta semana pretendo então falar de idéias brilhantes, combinadas com gestos importantes e a determinação de "fazer acontecer" desses empreendedores sociais.

É inimaginável o sentimento de solidão/carência de uma criança que vive em um abrigo para crianças e adolescentes, pois foi separada temporariamente do convívio familiar por ter sido exposta a situações de negligência, maus tratos, abandono, violência física e/ou abuso sexual. Ou então a aflição da mãe de um bebê prematuro, distanciada de seu filho sem poder vê-lo, bem como a apreensão e as incertezas sobre a sua saúde e seu futuro.

Admira-me muito a iniciativa criativa da presidente da ONG InPróS (Instituto de Projetos Sociais) Muriel Matalon, com o projeto Correspondentes do Bem, que viu no gesto simples de troca de cartas periódica a possibilidade de crianças que moram em abrigos ou frequentam núcleos sócio-educativos, onde o desenvolvimento de vínculos afetivos é pouco consistente, experimentarem relações de afeto recíprocas, dividirem suas experiências e exercitar a reflexão da suas histórias de vida e individualidade, além de verem nas cartas um estímulo para desenvolver a habilidade de se expressar com palavras.

O projeto viabiliza a correspondência destas crianças com voluntários adultos, inclusive com o acompanhamento de uma psicóloga que lê as cartas em sigilo garantindo que a troca seja benéfica para ambos, cada qual com seus objetivos específicos.

As crianças e adolescentes têm a oportunidade de fazer perguntas, dividir alegrias e tristezas relacionadas aos familiares, à escola e aos amigos, falar de namoros e de futuro, enquanto os voluntários, muitas vezes, curam antigas feridas ao acompanharem relatos de histórias semelhantes.

O projeto, que nasceu em 2004, contava em agosto de 2008 com 1.252 pessoas - metade de crianças e adolescentes e metade de voluntários - sendo que 11 mil cartas já foram escritas. No entanto, com a crise o projeto enfrenta problemas de arrecadação. São 138 voluntários na lista de espera que não podem agir devido a falta de recursos. O projeto utiliza R$ 38 por criança por mês, que por dia dá cerca de R$ 1,22, isto é, nem o preço de um chocolate ou uma Coca-Cola.

Outra iniciativa de empreendedorismo social de sucesso é a ONG Viver e Sorrir presidida pelo médico Benjamin Kopelman, vice-presidida por Liliana Takaoka, visando garantir a vida e a qualidade de vida de bebês prematuros de famílias necessitadas.

Pode parecer a primeira vista que os bebês prematuros são apenas prematuro e irão se desenvolver e crescer como qualquer bebê. Às vezes sim, mas nem sempre. Os recém-nascidos de muito baixo peso apresentam maior risco de morbidades como paralisia cerebral, retardo mental, problemas escolares, deficiência de crescimento e distúrbios visuais, auditivos e respiratórios. Nas populações economicamente carentes o risco é ainda maior por fatores maternos como baixo nível socioeconômico, assistência pré-natal ausente ou inadequada, nutrição deficiente, trabalho extenuante, e doenças não diagnosticadas como diabetes, hipertensão, anemia e infecções.

A questão é que existem tecnologias e tratamento para a criança de nascimento prematuro, no entanto, o acesso é restrito e o desenvolvimento desse bebê se deve também a estrutura familiar e seu nível socioeconômico e educacional. A ONG procura, em parceria com a disciplina de Pediatria Neonatal da Unifesp, oferecer desde melhorias na UTI neonatal, transporte das mães necessitadas para que estejam com seus filhos internados ou para levá-los às consultas médicas, equipamento de reabilitação das crianças, vestuário, cestas básicas e medicamentos, até apoio às famílias facilitando o acesso aos serviços de saúde, informando sobre higiene, saúde e direitos sociais, propiciando meios para melhoria das condições de moradia, saúde e educação. O acompanhamento muitas vezes se dá até os 15 ou 20 anos do prematuro, em que a família também é assistida por voluntários da ONG.

Não se pode ter noção de como isso pode fazer a diferença para alguém. São verdadeiras oficinas de sensibilização, que não saem nos noticiários. É interessante a possibilidade de replicabilidade destas mensagens do bem. Idéias boas todos têm, a dificuldade esta em operacionalizar e concretizar essas idéias e fazer realmente a diferença.

Eu, como ambientalista, poderia estar aqui defendo a colaboração à ONGs ambientalistas, mas a escolha das entidades se deu justamente para que, neste dia das mães, pensemos nas crianças e mães necessitadas que encaram inúmeras dificuldades diariamente e que muitas vezes nem nos damos conta.

Tenho escrito muito sobre o consumo sustentável, que segundo o Instituto Akatu é "consumir levando em consideração os impactos provocados pelo consumo". Minha proposta é que neste dias das mães, ao invés de presentear nossas mães com mais uma bugiganga, por que não darmos a elas algo que tenha um impacto positivo real sobre o planeta: uma oportunidade para outras crianças que têm necessidades reais e precisam de uma simples ajuda como as propostas por essas iniciativas.

Contribuam doando recursos financeiros, se voluntariando, divulgando em jornais e revistas ou outros veículos, ou até mesmo disseminando para seus amigos estas e outras atividades do bem.

O contato da InPrós é www.inpros.org.br ou nos telefones (11) 3257-0811, (11) 3578-4178 ou (11) 3571-0509 e o da Viver e Sorrir é www.viveresorrir.org.brou pelo telefone (11) 55 71-9277.


A luz no fim da adolescência

A paulistana Muriel Matalon, de 50 anos, ouve histórias de trabalho voluntário e generosidade desde criança. Os pais dela vieram do Egito para o Brasil com a ajuda de uma ONG que apoiava judeus nessa mudança, nos anos 1950. A entidade ajudou os Matalons a encontrar casa, trabalho e apoio. E a família retribuiu ajudando em projetos sociais. Em parte por causa dessa influência, Muriel cresceu prestando serviço voluntário em hospitais, num centro de apoio a excepcionais e numa fundação com projetos de educação e saúde para crianças e adolescentes. “Fazer parte de uma organização social é uma postura de vida. Você precisa estar muito comprometido para dar uma boa contribuição”, afirma.

Em 2004, ela decidiu criar o próprio projeto, de trocas de cartas entre voluntários e crianças que vivem em abrigos. Mais de 2 mil crianças já participaram do trabalho, o Correspondentes do Bem. Ele segue regras bem definidas: o voluntário e a criança não podem se encontrar e psicólogos leem a correspondência, prontos para interferir se for necessário. A iniciativa já foi uma grande conquista de Muriel. Mas as queixas das crianças a respeito dos abrigos inspiraram um voo mais ambicioso.

Com o projeto de troca de cartas, Muriel havia criado uma entidade para administrá-lo, a ONG Instituto de Projetos Sociais (InPrós). Ao avaliar as queixas das crianças nas cartas enviadas aos voluntários, a equipe do InPrós decidiu criar um projeto de melhoria da administração dos 21 abrigos que participam do Correspondentes do Bem. Muriel aproveitou sua equipe de psicólogos, especializados em abrigos, para a nova empreitada do InPrós. A ideia do Projeto de Colaboração e Intervenção Institucional, ou simplesmente Intervenção, é eleger um problema a ser resolvido em cada lugar. O primeiro desafio, que a equipe da ONG encarou em 2008 num abrigo em Guarulhos, na Grande São Paulo, foi ajudar a equipe da instituição a lidar com as crianças envolvidas com criminalidade. O abrigo foi fechado, por motivos não relacionados ao problema, após o final do projeto.

PROJETO GENEROSIDADE

A segunda intervenção está em andamento, em um abrigo na cidade de São Paulo. A questão a enfrentar é das mais complexas: como lidar com sete adolescentes, com idade entre 13 e 17 anos, sem nenhum contato com parentes. Eles têm poucas chances de ser adotados e terão de sair do abrigo ao completar 18 anos. “Aqui, somos capazes de mudar a vida dessas crianças. Mas quando elas chegam aos 18 anos não temos mais nada. É abrir o portão e colocá-las na rua”, diz Vanessa Alves, diretora do abrigo. Nesse caso, o objetivo do Intervenção é preparar os jovens para o momento de ir embora.

Há mais de 130 abrigos na capital paulista. Muitos têm mais de 20 crianças (o número máximo permitido atualmente) e não dispõem de estrutura ou capacidade para tentar fazer com que elas sejam adotadas nem para torná-las aptas a conduzir a própria vida na maioridade. O educador Roberto da Silva, especialista em abrigos para menores, diz que ainda estão por resolver mesmo as questões mais básicas no momento em que o jovem precisa sair do abrigo – como pagar aluguel, conseguir emprego ou se alimentar.

Na etapa atual, o Intervenção em andamento na Zona Leste de São Paulo consiste em encontros e conversas que reúnem, de cada vez, duas crianças, educadores e uma psicóloga do InPrós. Na reunião, eles tratam de temas como identidade, relação com a comunidade e planos para o futuro. Ao mesmo tempo que as conversas orientam os jovens, servem de preparação para que os educadores do abrigo lidem com casos semelhantes no futuro.

Muriel diz que o InPrós está em situação estável – depois de receber investimento inicial da família Matalon, passou a se sustentar com doadores individuais e patrocínio dos bancos Fibra e HSBC. Diante da complexidade dos problemas que enfrenta, ela tenta definir muito bem qual é – e qual não é – o papel da ONG. “Nós não podemos ajudar uma centena de crianças de uma vez nem mudar tudo”, afirma. “O que importa para nós é o que será feito, naquele momento, com aquela criança.”